A passagem do tempo
O contar os dias
As palavras ao vento
O sol que ardia

As figuras na mente
O Pensamento
As horas
os meses
os momentos

As loucuras
os sons
as ruas
os sóis e as luas

Miragens
poeira
abismo
beira

Fumaça

Vapor
Tempus fugit

O relógio que me ameaça
seu clique
contínuo
bomba atômica que me mata

Aprendi a dormir
mesmo te ouvindo
clique-claque
a me ninar
bomba constante
aqui dentro, nuclear

Aprendi a te amar

(Aqui dentro
não sei como ainda
mantenho os processos
acordo
durmo
venho trabalhar

Tempo, tempo, tempo, tempo, tempo, tempo, tempo

me impulsiona
me faz frear)











Passavam carros
todos vazios
nas avenidas lotadas
o pensamento engarrafado

Em todos os carros vazios
haviam celulares falantes
que falavam e falavam
de coisas importantes

Do lado de fora
calor e frio
e as pessoas que também sonhavam
estar em um carro vazio

Era uma pressa impressionante
do lado de dentro e de fora
enquanto o trânsito andava parado
haviam poucos
muito poucos do outro lado

As vezes havia tempo para um cigarro
quando por dentro e por fora
não estava tudo enfumaçado
as vezes havia tempo
as vezes, mas não raro

E em frente ao meu serviço
onde agora passam todos esses carros
havia um pé de mamão
desafiando todo esse estado

Eu não faço idéia de como ele
-o pé de mamão- cresceu ali
também não sei como de repente eu o vi

Na rua Santa Catarina
em meio a Savassi
um pé de mamão!
e aqui em cima na sacada
um cigarro em minha mão

Me lembro de você
ai em casa
e sinto o coração

Vou a terapia hoje
resolver problemas de carros
fumaça
e agora mamões

Deve ser isso mesmo
deve ser que seja isso ai....







Não tem nada que eu nunca...
nada e nunca não são

Tudo é algo que não existe
Nuca deveria ser usado
mas como nunca e nada também não
vale tudo, mesmo que não seja nada

Fomos muitos
mas não tudo
Fomos poucos
mas não nada

Muito e pouco
estão nos olhos de quem vê
no coração de quem sente

Os seres humanos
de todos os animais sociais
são os mais anti-sociais

Acham um absurdo que alguém cheire seu rabo
Mas virtualmente falando
vivem de cheirar rabos alheios

Rabos sempre fedem!

O seu fedor é algo para ser escondido
Adoramos peidar
mas odiamos os peidos

E essa é uma poesia de amor a humanidade
que mesmo sem querer
vive de cheirar os peidos, alheios ou não
e de tentar esconder os seus próprios

Cada macaco no seu galho
mas que os galhos estejam todos perto

Antigamente quebrar o galho de alguém
era algo bom...

O ser humano pirou de vez!
Não que eu ache que algum dia ele já foi são
mas cara, pirou de vez!

E não há nada que se possa fazer
mesmo que se tenha feito tudo!
Eu sei, é mentira
Há sempre o que se fazer

Então...
Que os macacos cheirem seus rabos
e que os cachorros desçam dos galhos!





Ai se tu soubesses
desse espinho doloroso...

Carrego em minhas vísceras

sangue
Sangue
esse melado

continuo sendo educado

coração é um músculo
válvulas
carro
amplificador

e fiquei sabendo que por lá
também andam neurônios
era o que me faltava!

E me faltam tantas coisas...
Ah se tu soubesses...
e se eu soubesse
de ti... o que te faltas...

Sabe essas coisas que dizem por ai?
não essas de ódios e rancores
essas simples
essas que não ligam mais?

Ando meio confuso
é tanta coisa pra acreditar
que ando gostando de ideia de não acreditar em nada

Me chamarão de ateu
ai!
Os rótulos!

Eu me sinto hoje
tão mais perto de Deus
não tenho desculpas
nem culpas
nem certezas

Tem dessas coisas também
tenho certezas absolutas sobre muitas coisas
tem dessas coisas
essas que ninguém sabe explicar
essas que não precisam de explicação

Kafka tinha razão
mas a razão era só o que ele tinha
o Humberto e suas lógicas
inabaláveis em vão

E agora
repito mais um dos meus versos
mais um dos versos meus
Porque eu repito
e repito
estou agora com os pés no chão





A alma
saída em traumas
não queria ser alma
queria a calma
do caos da eternidade

E se alma ainda fosse
queria ser índio
queria ser mato
queria ser onça
queria ser pássaro

Se fosse estrela
que fosse
mas que não fosse aqui
que fosse pelo infinito
seria achado
mesmo que perdido

Quando saí daí
sai sem saber
horas e vidas
estradas e vozes

E como não quisesse ouvir
outra voz
se não a sua
queria ser surdo
queria ser nada
queria ser teu
queria ser tudo

A alma
que alma não queria ser
agora se engana
se tornou alma
queria ser
e ser humana







Minha fé
anda sozinha
é como âncora
e é minha
só minha

Todos os porquês do mundo
pairam em mim
em um segundo

É uma síntese
simples
simples assim
para mim
e só para mim

Onde os paradoxos se resolvem
e a dúvida se dissolve

Estar então sozinho
sem nunca assim estar
é um caminhar
e tão somente um caminhar

É um salto que não se pode saltar
a não ser que salte sem saber
sem saber se se pode alcançar
e na incerteza se acalmar
pois o próprio salto te fez saltar

É um entregar-se ao abismo
consciente da gravidade

E saber que o degrau só existe quando se pisa
ou não
e ainda assim se alegrar

É uma paz conflituosa
é um descanso que te impulsiona

É a alegria de ver aquilo que não se pode viver

É saber que viver vai além

Era um desespero
hoje uma certeza

Uma certeza onde se penduram todas as dúvidas

É rir-se de si
É saber que Ele também ri







"Não é possível comunicar-se
O silêncio é a única linguagem
das coisas que se esperam
em certezas de miragem"



Silêncio
Silêncio
e mudo
mudo continuar

das coisas que se esperam
não há palavras

Absurdo!

Não há ética
nem tão pouco moral
não há certo, errado
bem, mal

Das coisas que se esperam
não se pede um sinal

"Esquizofrenia!"
Uma voz
uma voz aqui dentro
medo
melodia

Das coisas que se esperam
se espera com paz
angustiosa paz!
E se anda
por ai
sem destino
E se anda por ai
desatino

Se vai
e não se pode voltar
das coisas que se esperam
se sabe
se sabe
mesmo na impossibilidade
se sabe
em toda e total verdade

Das coisas se esperam
contra a esperança caminhar
e no fim, ao longe ver
se regozijar
das mesmas coisas que se esperam
dessas
dessas que não se pode comunicar










Estar pronto para morrer
é este o último limiar
a última fronteira
que se deva atravessar

A mente se consome em desejos
viagens e roteiros
nunca pronta para cessar

Há paz na morte

Não se assustar com a morte
é reconhecer de vez por todas
a fragilidade da vida
a sua limitação

Tropeçamos todos os dias
por todo o dia
A morte é a realidade pungente
A nos esperar calmamente
À hora em que nossa hora chegar

E se vê muita gente tentando fugir
morrendo devagar
Sem nunca estar pronto
Sem pronto, nunca estar
E a morte que vem de mancinha
durante a vida nos abraçar

Nas manhãs que não mais saciam
No sol que só queima
No frio que corta
No dia que se esvai
sem que nada possa se fazer

Nos beijos que não acalentam
No canto dos pássaros que não se ouve mais
Na correria da vida
Na ansiedade
que só faz matar

Correr da morte
e na morte se abraçar

Estar pronto para morte
a qualquer hora
em qualquer lugar

E pode ser que se fique velhinho
e feliz
pois se venceu mais um medo
e sem medo é que se deve viver
pois sem medo
morrer não é morrer
é andar no caminho da vida
para um dia a vida absorver
sua vida
eterna
viver





Eu não sei morrer
não me ensinaram
disseram que não!

Eu não sei desistir
me proibiram
disseram que não

Eu não sei perder
nunca permitiram
gritaram que não

Cresci menino
abestalhado
e cheio de nãos

Envelheci infantil
queria todos os sins
Não entendia o nãos

Eu era o único
um clone especial
retrato de uma geração

Se eu fosse infeliz
entrava em agonia
suprema depressão

Eu não sabia ver
a verdade da vida
eu dizia que não

Até que morri
desisti
perdi
Vi
e ouvi
um sonoro NÃO












As vozes oscilantes
as imagens inconstantes
estou cansado
fatigado

As nuvens acima
a falta de rima
queria ser mudo
perder o mundo

E esses sorrisos
que não são alegria?
O pouco que resta
se esvai pelo dia

Olhe!
Você não é você!
É qualquer coisa copiada
Uma piada!

Um homem sobe agora pela rua
uma rua qualquer lotada
As ruas não são mais caminhos
nem ainda estradas

O mundo nunca esteve perdido
O mundo nunca teve salvação
por ser nosso retrato
nossa criação

E dentro de mais um escritório maldito
não tenho tempo para meus próprios dilemas
meus próprios conflitos

As frases que ouço o dia inteiro
Por mais amenas que sejam
soam como desespero

São carros demais
caros demais
tudo demais

E agora
que nem um cigarro me acalma
quero ser um bicho
sem alma

Rolar na grama
Rolar na grama
Rolar na grama

E depois de exausto
voltar pra cama

Hoje,quando souberes de qualquer morte
só te peço que chore






Dói demais
dói ainda
sempre dói
nunca finda

Se explicar
e ter razão
razão demais
sem emoção

Essa emoção
tão egoísta
a dor do outro
nunca é vista

O que me faz
fechar assim?
Se não eu mesmo
dentro de mim?

Então me calo
e esse silêncio
não nos diz nada
é como o vento

E ainda assim
eu procuro
como um cego
sobre um muro

De um lado
minha voz me chama
e do outro
a mesma clama

Só tenho olhos
para o espelho
e sou surdo
para conselhos

O tempo passa
e me arrependo
ainda é longe
mas estou vendo

Que o tempo passa
e não volta mais
que muito
ficou pra trás

A contramão
é minha vida
E agora?
Um beco sem saída!