Eu não sei morrer
não me ensinaram
disseram que não!
Eu não sei desistir
me proibiram
disseram que não
Eu não sei perder
nunca permitiram
gritaram que não
Cresci menino
abestalhado
e cheio de nãos
Envelheci infantil
queria todos os sins
Não entendia o nãos
Eu era o único
um clone especial
retrato de uma geração
Se eu fosse infeliz
entrava em agonia
suprema depressão
Eu não sabia ver
a verdade da vida
eu dizia que não
Até que morri
desisti
perdi
Vi
e ouvi
um sonoro NÃO
As vozes oscilantes
as imagens inconstantes
estou cansado
fatigado
As nuvens acima
a falta de rima
queria ser mudo
perder o mundo
E esses sorrisos
que não são alegria?
O pouco que resta
se esvai pelo dia
Olhe!
Você não é você!
É qualquer coisa copiada
Uma piada!
Um homem sobe agora pela rua
uma rua qualquer lotada
As ruas não são mais caminhos
nem ainda estradas
O mundo nunca esteve perdido
O mundo nunca teve salvação
por ser nosso retrato
nossa criação
E dentro de mais um escritório maldito
não tenho tempo para meus próprios dilemas
meus próprios conflitos
As frases que ouço o dia inteiro
Por mais amenas que sejam
soam como desespero
São carros demais
caros demais
tudo demais
E agora
que nem um cigarro me acalma
quero ser um bicho
sem alma
Rolar na grama
Rolar na grama
Rolar na grama
E depois de exausto
voltar pra cama
Hoje,quando souberes de qualquer morte
só te peço que chore
Dói demais
dói ainda
sempre dói
nunca finda
Se explicar
e ter razão
razão demais
sem emoção
Essa emoção
tão egoísta
a dor do outro
nunca é vista
O que me faz
fechar assim?
Se não eu mesmo
dentro de mim?
Então me calo
e esse silêncio
não nos diz nada
é como o vento
E ainda assim
eu procuro
como um cego
sobre um muro
De um lado
minha voz me chama
e do outro
a mesma clama
Só tenho olhos
para o espelho
e sou surdo
para conselhos
O tempo passa
e me arrependo
ainda é longe
mas estou vendo
Que o tempo passa
e não volta mais
que muito
ficou pra trás
A contramão
é minha vida
E agora?
Um beco sem saída!