Deve ter sido em 1995
Num desses anos
em que nada importante acontece

Começo a ter grandes saudades
desses tempos que não me lembro

Só me lembro que não havia nada
nada de importante
nem uma paixão
pelo menos nenhuma que valha a memória

A vida transita entre a vontade
e a saudade

Um tipo estranho de ansiedade
uma forma subliminar de melancolia

Uma lembrança
que traz uma alegria
que angustia

A segunda década do novo milênio
Trouxe fantasmas
Monstros outrora mortos
ressurgiram
mais fortes
mais sutis
mais convincentes

E dentro dos nosso corações
eles também nasceram
pode ser também que
nunca estiveram mortos de fato

É impossível sair ileso
o mal já está feito
pode até ser também
que ele sempre esteve

Estou convicto que é muito melhor querer
do que precisar

Mas infelizmente, faço mais escolhas porque preciso
do que porque quero

Eu queria querer mais que precisar

Eu queria precisar apenas de uma bola de couro

Houve uma época que esse era meu maior sonho

Hoje tenho sonhos mais modestos








Era agosto
Uma criança nascia
E aqui do outro lado
Uma vida, singular vida, se ia

Era agosto
Dia 19
Uma festa acontecia
E ali bem do lado
Uma vida, por um fio seguia

Meu coração
Que de forma estranha, tudo sabia
Pressentia
Foi da euforia a melancolia
Terminou o dia em alegria

Uma vida que há anos
Era só saudade
Queria estar, queria partir
Reencontrar seu amor
Que durante mais de 60 anos
E há pouco estava ali

Queria uma casa que fosse só sua
Queria a nova Jerusalém
E pra'lém
Queria Ele, e só Ele, pra sempre
E amém

Foi-se minha velha
A pedra preciosa
Me deixou orfão
E um pouquinho daquela saudade infinita
Agora me habita

Eu sei que um dia
Eu também serei só saudade
E estarei mais perto de ti
Sei que me esperas
E o que é o tempo?
Logo estaremos todos ai

Uma vida que era só saudade
E a saudade agora nos une a ti
Partiu, em paz, para eternidade
No mesmo dia em que nasci
E nasceu mais um ramo
E me ficou a mensagem
Como se dissesse, estarei sempre aqui

Foi-se a vida
Que era somente saudade
E a saudade aperta agora em mim
Ainda vejo seus olhos
Pequenos olhos
Que já miravam a eternidade
Já não faziam parte daqui

9
28
27
96
33
19
Fazem sentido pra mim

Era agosto
E uma alegria eterna
Invadia meu coração

Era agosto
E meus olhos lacrimosos
Nunca te esquecerão

Era agosto
E sua pele fina
Ainda sinto em minha mão

Era agosto
E sua alma, bendita alma
Entrou em redenção

Era agosto
E eu sei que seu rosto
Estará para sempre em meu coração











Eu luto
contra mim mesmo
todos os dias
e perco
conta mim mesmo
todos os dias

A cada passo à frente
incontáveis pra trás
a sensação de não sair do lugar
pra trás é uma dimensão
e sou prisioneiro
preso em mim mesmo

Ouço sua voz me chamar
aqui ela ecoa
ecos
assombração
paranoia
esquizofrenia
não sei mais se é sua voz
ou mesmo a minha

Ando calado
calado sobre o que importa
tento ser raso
razoável
mas quanto mais me calo
mas a voz cresce
(a sua ou a minha?)
fico com medo
paralisado

Aumenta o medo
e o medo aprofunda essa agonia
sua voz, com certeza
era o que eu queria
mas já não consigo saber
se é sua ou minha

Meus gritos mudos, internos
infernos
que queimam
como não queimariam
se eu ainda distinguisse
sua voz ou a minha

Leva-me pra fora
onde algo faça sentido
arranca-me de mim mesmo
dá-me lugar entre os perdedores
para que eu não ande mais sozinho
deixe-me desfrutar da sua vitória
já não me importo com títulos
vence a mim mesmo por mim
triunfa sobre mim
dê-me o gosto de perder uma última e definitiva vez
e descansar nos braços do vencedor
e ficarei em paz contigo
e ficarei em paz
em paz comigo