Dói tanto o coração
tanto...
É tanto choro contido...
me assombra sua vazão

São lágrimas para anos
para uma vida inteira...
É tanto choro guardado
estancado...

Um lamento
para vida inteira
para toda humanidade

Queria chorar
o choro da existência
e que de tudo me esvaziasse
que eu fosse deixando de ser eu
perdendo minha identidade
fosse escoando-me pela minha face

Que descesse por todo o corpo
e que esse choro me lavasse
e choro por mim
por toda a humanidade
e que ao molhar o chão
alguma semente regasse
que fosse de paz essa flor
e que em meu coração
também germinasse

Tomara Deus
eu vire uma lenda
um mito sem genealogia
que meus olhos virem esse rio
espalhando essa magia

Que me afogue
nessas lágrimas
que minha perdição
seja minha vida
para que a vida que vivo agora
não esteja perdida

Mas no agora
eu volto e olho pra dentro
ansiando como uma grávida
o estouro deste rebento
foi para isso que sei que me fiz
para essa hora
para esse momento

Dói tanto
tanto ainda o coração
e esses olhos marejados
não refletem nem de longe o estado
nem parecem represar tão grande vazão





É que nesses dias
ando tão livre
que não posso
nem dar as mãos
Não aceito nenhuma cobrança
e se cedo a chantagens
é por opção

Essa minha liberdade, anda me trazendo confusão
e me compadeço das pessoas que não entendem...
Ah! Isso tudo é ilusão
alienação
prisão

Ando em verdade preso aos meus traumas/fantasmas
que se escondem em meu coração

E afirmo - por fora - que ando livre
mas é tudo crise

Quando sairei e verei o sol
a luz
a manhã?

Me deixem aqui
ainda por pouco...
mais uma noite

para que receba minha liberdade - verdadeira -
em castigo
em açoite