silêncio profundo
oriundo
do mais altíssono grito...

eco
eu mesmo me imito
e me irrito
e o silêncio
profundo
é do mundo
a mais louca utopia

pois as palavras que gritam em mim
são as palavras que não quero
nunca ouvir

e esse insuportável grito
se torna um mito
como o silêncio
que não posso nunca ouvir

só após muitos gritos
essa catarse violenta
purulenta
sairia esse grito
que ninguém pode ouvir
vindo direto de outro mundo
de todos o mais profundo
afogado, escondido...
de dentro de mim

são estas as palvras que amo
são estas que nunca escrevi

Palavras que chamam o silêncio
tão necessário
"emissário
de um mundo esquecido..."

Busco ainda forças pro grito
a garganta o quer
tanto quanto o coração
pra entrar no silêncio
dentro e mesmo assim
tão longe da solidão
pois ali moro
no esconderijo
pra onde dirijo
as verdades
e todo meu ser verdadeiro
que sempre estão
distantes de mim

Busco ainda coragem
coragem disforme
que deste
e neste mundo ainda não encontrei
busco coragem
em meio ao tumulto
dentro dos muitos sons

Vai chegando o dia
em que tão cheio
dos gritos do mundo inteiro
meu próprio grito darei

esse dia
tão nobre aurora
vai brilhando
apressando min'hora

esse dia sempre
no limiar do horizonte
água límpida da fonte
que ainda em breve
espero beber

esse dia
que raia sempre
em minha imaginação
vai se tornando real
agora em meu coração
e o grito que dou agora
é ensaio
do sol um raio
da exuberância dessa hora

e o silêncio
dos meus sonhos
o mais forte e denso
agora o sinto à porta
me dizendo
acalma, virei
e pra ti, nada mais importa

depois do grito, o suspiro,
logo após... o silêncio...





Ai que saudade
ai que saudade de você
Uma saudade inocente
Uma saudade de um tempo distante
que nem sei mesmo se vivi
pois pareço um viajente
que partiu e deixou o amor
e não levou recordações
ou mesmo perdeu todas elas

ai! porque não volta
você que está sempre aqui
porque nos separamos
porque?
se tanto amor ainda guardo por ti?

estarei sempre condenado
a viver de comparações?
sem você, as coisas são "quase"
quase iguais como eram com você

Não sei...
acho que fiquei estagnado
foi você quem partiu
partiu pra nunca mais voltar
e partiu pra sempre meu coração
levou consigo a maior parte dele
e deixou pra mim
a parte que é só saudades de ti

Sua pele
seus olhos
seu sorriso
Ai! É muita tristeza
mas aprendi a me consolar
e há dias que
quase me convenso que esqueci

Partiu e levou meu coração
por inteiro
pois a parte que tenho
é toda de ti

Partiu e não sei
se ainda guardas
o que levastes de mim
levastes meu coração por inteiro
e a parte que tenho
não faz mais parte de mim

Partiu
e o que fizestes
com o bem que te dei?
Se guardas não sei
mas será para sempre de ti

Ai que saudade que tenho
das ilusões que em torno de ti criei
se é verdade não sei
mas a saudade me ilude
e te amo
a cada dia em pureza
e em saudade suprema de ti

Sua pele
seu cheiro
o gosto que a boca guarda de ti
não sairão de mim jamais
te amo em saudade eterna
essa saudade
que agora e sempre
fará parte de mim





Não há poesia a se escrever
no estado que estou
apenas essa
e essa não é poesia

passa a noite, cai o dia
e hoje esse dia que parece noite
e nem ele foi capaz de me gerar
um pouco de melancolia

não há poesia na alegria
nem em sua falta completa
estou morno
de molho

bloqueios, ânsias, anseio
seu seio
argumentos, histórias, memórias
e no peito
um coração que não se sabe direito

Não há poesia nesses dias
mesmo que insista
e ela não apareça
esqueça
pois não há
apenas essa

e vencido mais uma vez
desisto
pois não há poesia
apenas e ainda
esse vácuo infinito





Que doce engano vivi
e vivo ainda agora
mais loucuras fiz
por medo de ir embora

Não sabia eu
que loucuras acabam nisso?
Sabia e não quis saber
desta verdade desde o início

Se pudesse voltar no tempo
se pudesse ouvir a razão
não seguiria e não sigo mais
meu enganoso coração

Meu coração
se ainda assim se pode chamar
não passa e nunca passou
de um moribundo a delirar
a fonte da vida dele secou
antes mesmo que dela
uma só gota eu pudesse provar

Que amargo desgosto agora sofro
desse engano que vivo e vivi
espero ainda encontrar la fora
a verdade que a vir tanto demora
pra ver se as doces fragrancias da morte
me envolvam em alguma hora





Seu amor me levou ao mais alto
e atordoado, perdi o chão
e acustumado com as núvens
tendo nelas a doce ilusão
de pisar no firmamento as alturas
fui perdendo a razão
e cedendo a loucura

E sem perceber fui perdendo as asas
que seu amor tão singelo me deu
fui caindo, caindo, caindo
e nisso foi-se indo
seu amor
o meu
você
meu eu

Tinha me tornado raso
enebriado de amor e alegria
cantava canções como o vento
embriagado com a luz do dia
e junto com essa melodia
eu me perdia
e me ia
rumo a chão dia-a-dia

O impacto
VIOLENTO!
cruel
sanguinolento
se foram as nuvéns
as alturas
as canções do vento

A realidade bateu nua e crua
e a morte anunciada sem choro nem vela
e assim, agora, sem ela
estou com meus pés em terra

De volta a verdade
ao mundo
me resignei a me tornar profundo
e cavava, descendo
pro fundo
aonde jazem
a sabedoria e o vagabundo

A sete palmos
pra dentro do chão
longe da multidão
das núvens
da vastidão
eu descia
rumo a solidão
procurando como quem prescruta uma mina
a espera do tesouro
um baú, cheio de ouro
onde a vida termina


O que enconteri foi saudade
não das alturas ou do vento
saudade de cada momento
que passei ao seu lado
as canções outra vez me surgiram
não como dantes, outrora
cantava novas canções
cantando dos segundos às horas
da falta que me fazes agora


E você
a quem eu perdi no tempo
andas por onde?
ao relento?
tens ainda como chão o firmamento?
ou encontrastes como eu a terra?


Você que sempre fora
a razão última da minha canção
que de saudade me dissolvo nas profundezas da terra
diga que ainda me espera
no abismo, nos céus, ou em outra qualquer dimensão
diga, para que mesmo
que eu não mais a veja
não perca a sabedoria
nem a fé, nem mesmo a razão
e viva pelo resto dos dias
aqui em baixo
rodeado com essa doce ilusão