Agosto
agosto
seu rosto
agora impresso dentro de mim
escrevo
não quero
preciso
as palavras aliviam
elas criam
mundos pra mim

Agosto
agosto
me trouxe um dia aqui
e comigo vieram
tristezas
alegrias
e o que mais pudesse vir

Agosto
agosto
quem sabe se foi em agosto
que realmente nasci?

Era meia noite
de dores de parto
sofria por mim

E viu-se indo
mas ainda lutava
para me parir
e de amor
a morte
não era nada
porque mais que a si
me queria ali

Agosto
seu rosto
não me lembro se vi
mas o seu abraço
sua voz
um laço
que sempre me acalma
quando perto de ti

Agosto
agosto
quantos agostos
eu trago hoje no rosto?
E o documento
que trago no bolso
não diz a verdade
de quantos agostos vivi

Agosto
agosto
não acabe nunca
fique por um século
não tenha fim

Porque se tu vais
vem sempre o desgosto
o gosto do mosto
o cheiro do mofo
e a vontade inebriante de partir

Agosto
agosto
se estenda
como logos
para que eu sempre seja a criança
a que dela é o reino
a que eu sempre quiz








Estou
em estado de luto constante
é como se um tanque
tivesse passado por cima de mim

E há tempos
a sinto vir
é como se aqui
fosse o lugar mais perto do fim

O fim
Ah! O fim!
Quando?
Como?
Meu coração
tem uma indagação
um pergunta
que ainda não foi perguntada
com uma palavra
que ainda não foi decifrada

Palavras são enigmas do coração decifrados

As palavras existem antes
antes que pela primeira vez fossem ditas
escritas
elas já pairavam em nós
muito antes

A angústia que me habita
é de uma palavra que ainda não foi dita

É como amar alguém que ainda não se conheceu
Ou chorar de saudade de um estranho

É como ter conquistado todas as coisas
e ficar insone com a falta de algo que não se sabe

Como procurar por algo que não se perdeu
ou a nostalgia de algo que não se viveu

Eu ainda não encontrei o que procuro
porque não sei o que procuro
e suspeito, que a procura, é por fim
o que eu tanto procurava

E talvez essa palavra
seja resultado
do meu mais suave e sereno silêncio