1

eu me iludo sempre
sim, eu mesmo me iludo
vedo a boca do meu ser
mudo

eu não sei exatamente o que
minha não-razão fica a procura
só a eternidade é minha solução
cura

é que dentro de mim
lateja violentamente
a vontade de ser teu
totalmente

2

o coração dividido
bi-partido
dicotomizado
esperando que eu decida
escolher pela vida
que é estar ao seu lado

o coração pobre-coitado
vai sendo enganado
pulsando forçosamente
pelos meus desejos
que lhe são contrário

pois longe de ti
vou andando desorientado
sabendo que só tenho uma saída
que é andar ao seu lado


3

estou na eterna caminhada
de volta, retorno
e por esses caminhos escuros
isso me serve de consolo

até que um dia
Sua luz brilhe, salvação
e encham meus olhos
reestabelecendo minha visão

pois perdido e cego
ando em mim mesmo, calado
pois mesmo que eu não esteja
você está do meu lado


4

ando voltando
por todos esses caminhos novos
ando nessa estrada
que as vezes me parece errada
pois a maioria caminha em outra direção
e eu aqui, contramão

mas sei no mais profundo do meu ser
embora me fuja as vezes a convicção
que algo estranho me guia
sua mão

para que ao terminar o caminho
encontre o fim desejado
e me surpreenda, com a imagem
de quem sempre esteve do meu lado





te amo em profundo silêncio
enquanto o mundo inteiro
quer gritar
eu, em profundo silêncio
guardo o respeito
e a vontade de te encontrar
aqui dentro do peito

se inverteram os valores
mas pra mim
ninguém precisa saber
o que guardo aqui dentro
ninguém
e hoje nem mais você

deram um ultra valor
as demonstrações explicitas
e públicas de amor
mas me guardo disso, hoje
com reverência te amo
em silêncio e temor

respeito meu ser
e as propriedades terapeuticas da dor
e matenho em segredo
minha esperança
meus desejos, meu amor

é que não tenho controle
sobre seus atos, desejos e vontades
por isso te amo em liberdade
Quem ama deixa livre
dor libertadora saber dessa verdade

te amo agora em segredo
em paz, e na medida máxima de bondade
que meu ser pode suportar
oxalá não gritasse o mundo pra mim
dizendo que assim
ninguém pode se sustentar

é que amam o amor que sentem
e não amam deveras o ser
por isso gritam
teem necessidade de se auto-convencer
do amor que na verdade não sentem
por isso para si mesmo mentem
não podem se conhecer

e eu
te amo em silêncio
profundo
e do fundo
do meu coração
desejo que um dia
a vida
possa nos dar
uma completa satisfação





é como se sentir seguro
andando em cima de um muro
sem saber

(aonde está você)

e sentir em um segundo
todas as crises do mundo
sem entender

(pra onde vai você)

nunca se sabe
o que vai acontecer
existe sempre uma chance
uma revanche
e as vezes, dependendo
eu não quero saber
o que acontece do meu lado
já perco tanto tempo
com o que se passa por dentro
que prefiro ficar calado

é como sentir um estranho gozo
mesmo com a corda no pescoço
sem temer

(aonde está você)

e sentir a cada dia
que se vai chegano ao fim da via
sem se ver

(pra onde vai você)

eu cheguei ao fim da página
e não sei exatamente o que escrever
deve ser mesmo
porque perdi você
e fico assim sem saber
se corro
se paro
a pé
ou de carro
se fico
ou viajo
mas quando vejo
o que sempre acontece
a página acaba
e minha mente esquece
o que queria escrever

aonde vai você







ouves de outra boca agora
as palavras que sempre falei
mas de mim não ouves mais
é que te perdi, eu sei, eu sei

Eh! vou viver assim condenado
a pagar o preço dos meus erros
nosso pecado!

sua imagem como um retrato
não é da realidade um fato

sua imagem como um fato
eu guardo como um retrato

Eh! vou morrer assim anestesiado
cuidando para não haver erros
nunca houve pecado

ouves de minha boca eternamente
as palavras que nunca falei
de outros ouviu sempre
é que me amas, eu sei, eu sei





ando inconformado
com objetos estranhos que vejo
sentimentos que tomaram forma
vejo a silhueta obscura do beijo

e tudo tem se tornado estranho
a beleza do subjetivo
se perdeu na realidade
não me agrada aos olhos
os contornos da felicidade

e aquilo que sempre me pareceu
como absoluta verdade
não traz mais a beleza
oculta na subjetividade
se tornou escárnio pra mim
após sua materialidade

esses objetos
que agora me causam medo
eram antes disso
minha alegria em segredo
mas agora
depois que os vejo
ando enojado
envolto por desprezo

a vontade de fazer o caminho de volta
onde a beleza não se enxerga
mas esse é um dos espinhos
que a vida agora carrega

a brutal realidade
dos objetos que vejo
redobra ainda mais
esse mesmo desejo
de voltar nesse caminho
e arrancar da carne esse espinho

a atmosfera se tornou pesada
carregada por esses objetos
enchem todos os lugares
estão no chão, vão ao teto

por pouco já não vejo ninguém
só essas malditas formas que me cercam
e que começam agora a ter vozes
tornando-se meus cruéis algozes
bestas ferozes
que me manietam

agora só existem lampejos
do mundo que outrora via
estas bestas-feras horrendas
destruíram minha fantasia

pois vejo agora
só o sentimento que lateja
nos corações discrepantes
da humanidade
mas algo aqui dentro me fala
que não vejo a verdade
vejo apenas minha própria maldade

verdade é
que já nada vejo
as trevas tomaram conta da paisagem
nem em lembranças
sei mais o que um dia foi imagem
não há mais vozes
barulho total - silêncio
tão somente essa linguagem

e eu aqui perdido
não sei mais se sou eu
ou toda a humanidade
que anda perdida em si mesma
imersa na própria vaidade





gela minha alma
o suspense do encontro
porque é sempre inesperado
e quase nunca estou pronto

e pulsa forte aqui no peito
deve ser alguma forma (indestinguível)
de respeito

a distância é fundamental
nesses casos
mas o susto com o inesperado
é sempre incontrolável
pelo menos nesses casos

e será assim
até que
um dia
você não seja mais surpresa
seja todos os dias
aqui
na nossa mesa
ou pode ser que nunca mais
que na retina
eu a veja

e pode ser
que nada disso aconteça
seria essa sim
para mim
a maior de todas as surpresas