Eu luto
contra mim mesmo
todos os dias
e perco
conta mim mesmo
todos os dias

A cada passo à frente
incontáveis pra trás
a sensação de não sair do lugar
pra trás é uma dimensão
e sou prisioneiro
preso em mim mesmo

Ouço sua voz me chamar
aqui ela ecoa
ecos
assombração
paranoia
esquizofrenia
não sei mais se é sua voz
ou mesmo a minha

Ando calado
calado sobre o que importa
tento ser raso
razoável
mas quanto mais me calo
mas a voz cresce
(a sua ou a minha?)
fico com medo
paralisado

Aumenta o medo
e o medo aprofunda essa agonia
sua voz, com certeza
era o que eu queria
mas já não consigo saber
se é sua ou minha

Meus gritos mudos, internos
infernos
que queimam
como não queimariam
se eu ainda distinguisse
sua voz ou a minha

Leva-me pra fora
onde algo faça sentido
arranca-me de mim mesmo
dá-me lugar entre os perdedores
para que eu não ande mais sozinho
deixe-me desfrutar da sua vitória
já não me importo com títulos
vence a mim mesmo por mim
triunfa sobre mim
dê-me o gosto de perder uma última e definitiva vez
e descansar nos braços do vencedor
e ficarei em paz contigo
e ficarei em paz
em paz comigo