E no fim de tudo
tudo se estabelecerá
não haverá mais segredos
para alguns anseio, desejo
para outros porém, medo

saberás das minhas falhas,
do meu terrível ser
saberás também
que tantos desejos puros
e tanta boa intenção
foram fruto de terrível
má interpretação
saberás por fim do meu coração

Saberei se seu olhar
carregava amor
ou se apenas desejo
saberás que meus sorrisos
traziam dor
e não apenas meu beijo

Ficarei nu
e se manisfetará minha probreza
toda força que não tenho
toda minha incerteza
minha falta de empenho

o que me resta de nobreza
minha sinceridade apaixonada
o que se passava em seu coração
quando em um turbilhão de palavras
sua boca calada

Bem e mau enfim descobertos
o fim de toda relatividade
saberás quem eu sou
desde antes da eternidade
saberás a Verdade

E ai, sem mais demora
te trarei para perto de mim
rodeado de eterna luz
arpejos eternos, harpas de querubim
será esse o início
logo após esse temporal fim





Eu sou um eterno fingidor de mim
me disfarço diante do meu olhar
sendo aquilo que queria ser
pra enganar
e não somente a mim

Passam olhos sobre mim
e sorrisos passam também
não sabem o que o coração discrepante sente
e por mais que ignore, mente
e a esse engano diz: Amém

Ah se soubessem
da incapacidade que sinto
da quase inutilidade em que me perco
me sinto sempre em um cerco
por isso me engano, minto

E agora se escandalizam
Porque de mim sempre se ouviu:
odeio a mentira
agora clamo: Quem dessa fossa me tira?
e quem ouviu, não fez nada, riu

As pessoas não me veêm como eu
são sinceros enganados ao meu respeito
e eu que sei, mas não me entrego a verdade
vivo de maquiar a realidade
vou dando sempre um jeito

Mas aqui dentro de mim
vivo em angústia de vontade
de me mudar por inteiro
parar de gostar do chiqueiro
mas até isso me sorri como vaidade

É um paradoxo?
não
ambivalência?
talvez
Ironia?
por completo
e aqui debaixo desse teto
me desconcerto
por que fico e nunca vou
a ironia é que ainda não sei quem sou

Amo a verdade acima de tudo
minha tristeza reside nesse pesadelo
de esconder o que sou até de mim mesmo
sou fraco, sou pobre, sou ermo
sem poder mudar a cor de um fio de cabelo

E quem é que pode viver nesse paralelo?
confesso mais um defeito
existem muitos que invejo
pessoas que não vêem com o olhar que vejo
pessoas com simples conceitos

Eu
meu eterno traidor
quem mais me ama
o que mais causa dor
Eu
a causa e o efeito
nunca começo, nem fim
sempre meio
Eu
a causa mor do desespero
remédio, veneno
insosso, tempero

Ah se passassem olhares
sorrisos e tudo mais
e vissem aqui um coitado
e me deixassem em paz

Ah se não houvessem
mais lamentações a fazer
e todos pudessem ser o que são
em paz
alegres
em depressão

Ah se eu me visse livre de mim
acharia o retorno
e no meio de tudo um fim






quem é o maldito atrás do vidro cromado?
que se esconde de mim
e se revela assim, triste e inconformado?

quem é que sabe a verdade por trás desses olhos tristes?
quem é que viu a verdade?
na realidade, será que ela existe?

quem viu o flagelo da história que nunca foi contada?
quem estava lá pra assistir?
me vejo assim, escondendo, enterrando e a mantendo guardada

sabe-se lá, se algum dia alguém poderá a ouvir
existe alguém por ai?
queria que fosse em ti, que eu encontrasse razão de existir

o que esse maldito fez pra me separar de mim?
o reflexo que vejo no vidro
puro desequilíbrio, vestígios sempre do fim

queria que fosse você, que é toda a história
que estivesse sempre aqui
mas no final o que vi, os ponteiros, o relógio e as horas

passou-se o tempo, em anos a vida inteira?
e carrego pra sempre
e finalmente, os calafrios da hora derradeira

quem é que se esconde atrás do olhar do espelho?
que me disseca
e sem nenhuma pressa, me dá sempre o mesmo conselho

espera
espera
espera
que do alto virei para ti
descansa
descansa
descansa
farás parte do todo de mim

e por fim revelada a história
sem mágoas então saberás
terás, por fim a vitória

mas ando na terra, e continuo a perguntar:
por quanto tempo?
e isento, Ele continua a falar:

Espera... descansa...
em breve não haverá mais o tempo
viva por esse alento, e por fim também como herança

e me calo, como me calo agora
e depois, amanhã, eu não sei
Saberei? Apenas no tilintar da última hora





De onde vem essa sede?
essa necessidade?
a muito não sei se é sede
acho apenas ser vaidade

é terrível constatar a cada dia
que os meus sentimentos mais puros
não passam de ufania
atirar de pedras num muro

o orgulho que a gente desmente
se aflora na certeza inata
de que bem não faço em verdade
egoísmo que a vida mata

enredando mais gente e mais gente
pro meu próprio e particular abismo
deveria sim libertá-las
mas me rendo ao narcisismo

e me canto livre e contente
numa mentira desatinada
enlaçando corações e mentes
de gente desavisada

e meu clamor ridiculo e egocêntrico
é sempre por mim mesmo, devaneio
como se eu me resolvendo
resolvesse o mundo inteiro

Acorda! Há uma voz que me diz
não! Ela grita
e eu inerte em meus pensamentos
grito a mim mesmo: Não ouça, evita!

preciso mesmo ouvir essa voz
não a minha, mas a do conselho
e parar de ouvir o que diz
quem está do outro lado do espelho

preciso também parar de achar que sei
aquilo que devo saber
não sei se preciso de conselho
queria mesmo ouvir o que tem a me dizer
quem está no espelho

De onde vem essa sede? essa fome?
esse desejo?
eterna procura infinda
rato atrás do queijo
auto-traição
judas se dando um beijo

De onde vem essa fome,
se não da fome em si mesma?
me consome
o desejo de desejar
a fome!

De onde vem essa pergunta
essa indagação?
espero de mim a resposta (ou de alguém?)
um talvez, um sim ou um não






vem sempre alguém
pra bagunçar a vida da gente
pode ir assim, tão derrepente
ou pode ficar pra sempre

pode ser solução
mas o que me parece
é uma grande confusão

tem que pagar pra ver (tem ver pra crer)
era o que me diriam
é porque não dá pra prever
porque tem de ser assim, porque?
são perguntas sem respostas
e eu continuo aqui, ainda sem saber

Calma, é a palavra que urge
mas não combinam uma com a outra
é como um leão que ruge
aço inox
ferrugem

Escolhas
Aventura
lucidez?
loucura?

Prefiro ainda a surpresa
hoje a fome
amanhã farto de pão
prefiro mesmo a surpresa
do que a previsão

Mas sabe-se la o que é a vida?
um gráfico, um plano?
Não, a minha é sempre
acertos e enganos

Encontros, desencontros
reencontros e despedidas
essa é minha vida

por isso não se engane
não se aprece
não se perocupe
a vida continua a passar
mesmo que dela a gente não se ocupe
e o que será, será
mesmo que agora
a gente já não saiba por onde
nem como caminhar