Eu sou um eterno fingidor de mim
me disfarço diante do meu olhar
sendo aquilo que queria ser
pra enganar
e não somente a mim

Passam olhos sobre mim
e sorrisos passam também
não sabem o que o coração discrepante sente
e por mais que ignore, mente
e a esse engano diz: Amém

Ah se soubessem
da incapacidade que sinto
da quase inutilidade em que me perco
me sinto sempre em um cerco
por isso me engano, minto

E agora se escandalizam
Porque de mim sempre se ouviu:
odeio a mentira
agora clamo: Quem dessa fossa me tira?
e quem ouviu, não fez nada, riu

As pessoas não me veêm como eu
são sinceros enganados ao meu respeito
e eu que sei, mas não me entrego a verdade
vivo de maquiar a realidade
vou dando sempre um jeito

Mas aqui dentro de mim
vivo em angústia de vontade
de me mudar por inteiro
parar de gostar do chiqueiro
mas até isso me sorri como vaidade

É um paradoxo?
não
ambivalência?
talvez
Ironia?
por completo
e aqui debaixo desse teto
me desconcerto
por que fico e nunca vou
a ironia é que ainda não sei quem sou

Amo a verdade acima de tudo
minha tristeza reside nesse pesadelo
de esconder o que sou até de mim mesmo
sou fraco, sou pobre, sou ermo
sem poder mudar a cor de um fio de cabelo

E quem é que pode viver nesse paralelo?
confesso mais um defeito
existem muitos que invejo
pessoas que não vêem com o olhar que vejo
pessoas com simples conceitos

Eu
meu eterno traidor
quem mais me ama
o que mais causa dor
Eu
a causa e o efeito
nunca começo, nem fim
sempre meio
Eu
a causa mor do desespero
remédio, veneno
insosso, tempero

Ah se passassem olhares
sorrisos e tudo mais
e vissem aqui um coitado
e me deixassem em paz

Ah se não houvessem
mais lamentações a fazer
e todos pudessem ser o que são
em paz
alegres
em depressão

Ah se eu me visse livre de mim
acharia o retorno
e no meio de tudo um fim