De onde vem essa sede?
essa necessidade?
a muito não sei se é sede
acho apenas ser vaidade

é terrível constatar a cada dia
que os meus sentimentos mais puros
não passam de ufania
atirar de pedras num muro

o orgulho que a gente desmente
se aflora na certeza inata
de que bem não faço em verdade
egoísmo que a vida mata

enredando mais gente e mais gente
pro meu próprio e particular abismo
deveria sim libertá-las
mas me rendo ao narcisismo

e me canto livre e contente
numa mentira desatinada
enlaçando corações e mentes
de gente desavisada

e meu clamor ridiculo e egocêntrico
é sempre por mim mesmo, devaneio
como se eu me resolvendo
resolvesse o mundo inteiro

Acorda! Há uma voz que me diz
não! Ela grita
e eu inerte em meus pensamentos
grito a mim mesmo: Não ouça, evita!

preciso mesmo ouvir essa voz
não a minha, mas a do conselho
e parar de ouvir o que diz
quem está do outro lado do espelho

preciso também parar de achar que sei
aquilo que devo saber
não sei se preciso de conselho
queria mesmo ouvir o que tem a me dizer
quem está no espelho

De onde vem essa sede? essa fome?
esse desejo?
eterna procura infinda
rato atrás do queijo
auto-traição
judas se dando um beijo

De onde vem essa fome,
se não da fome em si mesma?
me consome
o desejo de desejar
a fome!

De onde vem essa pergunta
essa indagação?
espero de mim a resposta (ou de alguém?)
um talvez, um sim ou um não