Passavam carros
todos vazios
nas avenidas lotadas
o pensamento engarrafado
Em todos os carros vazios
haviam celulares falantes
que falavam e falavam
de coisas importantes
Do lado de fora
calor e frio
e as pessoas que também sonhavam
estar em um carro vazio
Era uma pressa impressionante
do lado de dentro e de fora
enquanto o trânsito andava parado
haviam poucos
muito poucos do outro lado
As vezes havia tempo para um cigarro
quando por dentro e por fora
não estava tudo enfumaçado
as vezes havia tempo
as vezes, mas não raro
E em frente ao meu serviço
onde agora passam todos esses carros
havia um pé de mamão
desafiando todo esse estado
Eu não faço idéia de como ele
-o pé de mamão- cresceu ali
também não sei como de repente eu o vi
Na rua Santa Catarina
em meio a Savassi
um pé de mamão!
e aqui em cima na sacada
um cigarro em minha mão
Me lembro de você
ai em casa
e sinto o coração
Vou a terapia hoje
resolver problemas de carros
fumaça
e agora mamões
Deve ser isso mesmo
deve ser que seja isso ai....
Não tem nada que eu nunca...
nada e nunca não são
Tudo é algo que não existe
Nuca deveria ser usado
mas como nunca e nada também não
vale tudo, mesmo que não seja nada
Fomos muitos
mas não tudo
Fomos poucos
mas não nada
Muito e pouco
estão nos olhos de quem vê
no coração de quem sente
Os seres humanos
de todos os animais sociais
são os mais anti-sociais
Acham um absurdo que alguém cheire seu rabo
Mas virtualmente falando
vivem de cheirar rabos alheios
Rabos sempre fedem!
O seu fedor é algo para ser escondido
Adoramos peidar
mas odiamos os peidos
E essa é uma poesia de amor a humanidade
que mesmo sem querer
vive de cheirar os peidos, alheios ou não
e de tentar esconder os seus próprios
Cada macaco no seu galho
mas que os galhos estejam todos perto
Antigamente quebrar o galho de alguém
era algo bom...
O ser humano pirou de vez!
Não que eu ache que algum dia ele já foi são
mas cara, pirou de vez!
E não há nada que se possa fazer
mesmo que se tenha feito tudo!
Eu sei, é mentira
Há sempre o que se fazer
Então...
Que os macacos cheirem seus rabos
e que os cachorros desçam dos galhos!