No início
pensei
e pensei saber
e ainda, mesmo que improvável
deveria haver pelo menos um
que fosse um
sentido
Quando nessas horas
toda a humanidade invade
e dilacera minha mente
choro
desses choros internos
esses que ninguém vê
Eu mataria um bilhão de homens
para que houvesse paz
mas não sou capaz de matar um homem sequer
e mato todos os dias
milhares deles
pelas ruas e esquinas
Meus olhos não cruzam mais com os dos homens
não vejo humanos
vejo mentira
mentira tal
que a vaidade é uma virtude
Ah! Gostaria de poder exclamar:
Tudo é vaidade!
Cachorros, gatos e bois
ganham o nosso afeto.
Não nos apiedamos de pobres e índios
descobrimos motivos para odia-los
E matamos cachorros, gatos e bois
para termos ainda piedade de algo
O opressor e o oprimido
são o mesmo lado de uma moeda que nunca existiu
e do outro lado da moeda
existe apenas um vazio
o lado da moeda que nunca existiu...
É forte o sol aqui embaixo
procuro... procuro...
não acho.
É seco o chão em que piso
e das lágrimas que não choro
faço meu sorriso
como o amargo que se torna doce
por falta de opção
como o sentir que não se sente
e se chama coração
como continuar mesmo assim
sempre andando
como o ser que já foi
chamado ser humano
como quando se confunde
o ar, a respiração
e se continua olhando
por autocomiseração
Amigos!
Queria avisar-lhes
Que não morri!
Avisar que meu sorriso
pra todos ainda sorri
E também que continuo
ainda por aqui
E que me esforço
para nunca mentir
Amigos!
Queria avisar-lhes
que o mundo não acabou
Que o asfalto
meu coração não asfaltou
Que a cidade é o sonho
de quem nunca sonhou
E que existe vida
muito pr`além do rock in roll
Amigos!
Queria que soubessem
mas que não se entristecessem
Vocês podem também não morrer
Viver uma vida que seja viver
E ser sempre sendo o que se tem que ser
Amigos!
Nas últimas horas
se foram os dias
E a noite, que outrora tardia
chegou
e ficou
de mancinha
Amigos!
Agora que existe
um sol pra cada cabeça
amendronto-me
com medo que nunca amanheça
Amigos! Amigos!
antes, agora
ainda não morri
queria avisar-lhes
e informar-lhes
eu vi!
Há noites sem lua
escuras, dunas
ainda mais noturnas
Dias nublados
cinza, tablado
ainda mais calado
Há noites mais frias
vazias, tardias
ainda mais minhas
Dias secos
ecos, esqueletos
me perco
Pássaro que voa só
Moinho sem mó
Dor sem dó
Árvore de rua
Rainha nua
Minha vida, sua
Essa vida que é morte
Poesia que é sorte
Labirinto que é norte
Beleza que é prisão
Choro sem emoção
Grito da multidão
E um sentido
sentido por poucos
chamados de loucos
Que acreditam no perdão
Que amam com emoção
Perdem sem perder a razão
Há noites sem luas
mas nunca e nunca
noites que não possam ser sua
Há choro sem dor
e por mais que seja demais, jamais
Vida sem amor