No início
pensei
e pensei saber
e ainda, mesmo que improvável
deveria haver pelo menos um
que fosse um
sentido

Quando nessas horas
toda a humanidade invade
e dilacera minha mente
choro
desses choros internos
esses que ninguém vê

Eu mataria um bilhão de homens
para que houvesse paz
mas não sou capaz de matar um homem sequer
e mato todos os dias
milhares deles
pelas ruas e esquinas


Meus olhos não cruzam mais com os dos homens
não vejo humanos
vejo mentira
mentira tal
que a vaidade é uma virtude
Ah! Gostaria de poder exclamar:
Tudo é vaidade!

Cachorros, gatos e bois
ganham o nosso afeto.
Não nos apiedamos de pobres e índios
descobrimos motivos para odia-los
E matamos cachorros, gatos e bois
para termos ainda piedade de algo

O opressor e o oprimido
são o mesmo lado de uma moeda que nunca existiu
e do outro lado da moeda
existe apenas um vazio
o lado da moeda que nunca existiu...

É forte o sol aqui embaixo
procuro... procuro...
não acho.
É seco o chão em que piso
e das lágrimas que não choro
faço meu sorriso
como o amargo que se torna doce
por falta de opção
como o sentir que não se sente
e se chama coração
como continuar mesmo assim
sempre andando
como o ser que já foi
chamado ser humano
como quando se confunde
o ar, a respiração
e se continua olhando
por autocomiseração