Tudo se repete
Isso é tão novo
Hoje estou aqui
Amanhã estarei de novo

Amanhã que tal sairmos
Hoje arrumamos tudo
Depois faremos um plano
Dominaremos o mundo

Dominaremos a sala de estar
Ficaremos parados
Fecharemos os olhos
Estaremos cansados

Estaremos aqui
Como todo dia
Olhando pro teto
Pura monotonia

Vida é o final
Acabou de terminar
Sentado, deitado
Parado no sofá

Agora vou repetir
O que eu ainda não falei
Tudo parece errado
Mas desta vez acertei

Mas tudo tem erros
Prática de defeitos
Tudo é tão certo
Que me parece perfeito

Que me sinto louco
Debaixo da escada
Perto do corredor
Vejo uma fada
No escuro da dispensa
Quem brinca é a morte
Eu quero ir lá
Independência ou sorte?

Me tranco no banheiro
Com medo de mim mesmo
O reflexo da água do vaso
Me serve de espelho
Fui dormir trancado com sete chaves
Trancado com sete selos




É o que ouço pela manhã
é o que ouço pela madrugada
que sou um louco, infantil
Não sabendo todos que pra quem ama
isso é igual a nada

Queria escrever versos mais densos
com sentenças mais rebuscadas
mas agora me foge o raciocínio
minha mente em trevas condenada

Meu corpo, morto
de fome e tristeza, já não come
e o que me dava aspecto de beleza para encenar
a tristeza consome

Minha boca tem gosto de sangue
e de sangue tem sido meu choro
já se apega minha língua em minha boca
como meus ossos em meu couro

Já me envolve da morte seus vapores
e sua frieza em calafrios
não me causam horror e temores
ao invés disso, rega meu paladar
com seus terríveis, mas tão doces sabores
que já não sinto o amargo da vida
só a paz do fim e seus frescores



O coração
ainda bate estranho
Estranho mesmo
é que ele ainda bata

Acelera, desacelera
e quase para
Estranho, estranho mesmo
é que ele ainda bata

Psicose, neurose
obcessão!
Estranho mesmo que ele não para
estranho que ainda bata o coração

Paz, calma
tranquilidade
decisão!
São como bálsamo que alivia
mas não explica
porque ainda bate o coração

Porque bate estranho
num poço de paz
mas sem achar a solução
que me explicaria
mas talvez não curaria
esse tão estranho
bater do coração






tempo, tempo
prisão
fonte inesgotável(?)
de tristeza e ilusão

ah! que já não vejo a hora de faltarmes
de deixarme pra trás
ah tempo, de ninguém amigo
a tempos que nada de ti espero mais

há um lugar (será lugar?)
onde o tempo se esgotou
será que um dia nele penetrou?

Esse corruptor
cruel e atroz assassino
dilacerando a cada dia
minha antiga alma de menino
e transformado o que era puro
me levando a um caminho
que sempre acaba num muro

há um lugar (e onde está, se é que há?)
onde dizem nunca houve tempo
não existe coisa sem fim
onde não existe a frase: não me lembro
onde o todo e o unico são uno
onde o conhecimento é pleno

mas a realidade (será mesmo que é?)
é feita de tempo
segundos, horas, meses, milenios
passado, futuro, presente
arrebatando tudo que há em mim
sou a cada momento mais orfão, mais carente
um perdedor cada vez mais eloquente
a ilusão desse mundo descrente
o proprio enfado de minha mente

mas o tempo não é feito de realidade
o tempo é ilusão
invenção
o cárcere
minha alma presa na sua propria criação

Deve haver um lugar (ó Deus tem de haver!)
onde haja descanso

mas enquanto isso o tempo passa
e onde passa arrasa
como uma enchente cíclica sem fim
a tempetstade, com raios, relampagos e trovão
que sempre reabastece
essa fonte inesgotável
de tristeza e ilusão.