tempo, tempo
prisão
fonte inesgotável(?)
de tristeza e ilusão

ah! que já não vejo a hora de faltarmes
de deixarme pra trás
ah tempo, de ninguém amigo
a tempos que nada de ti espero mais

há um lugar (será lugar?)
onde o tempo se esgotou
será que um dia nele penetrou?

Esse corruptor
cruel e atroz assassino
dilacerando a cada dia
minha antiga alma de menino
e transformado o que era puro
me levando a um caminho
que sempre acaba num muro

há um lugar (e onde está, se é que há?)
onde dizem nunca houve tempo
não existe coisa sem fim
onde não existe a frase: não me lembro
onde o todo e o unico são uno
onde o conhecimento é pleno

mas a realidade (será mesmo que é?)
é feita de tempo
segundos, horas, meses, milenios
passado, futuro, presente
arrebatando tudo que há em mim
sou a cada momento mais orfão, mais carente
um perdedor cada vez mais eloquente
a ilusão desse mundo descrente
o proprio enfado de minha mente

mas o tempo não é feito de realidade
o tempo é ilusão
invenção
o cárcere
minha alma presa na sua propria criação

Deve haver um lugar (ó Deus tem de haver!)
onde haja descanso

mas enquanto isso o tempo passa
e onde passa arrasa
como uma enchente cíclica sem fim
a tempetstade, com raios, relampagos e trovão
que sempre reabastece
essa fonte inesgotável
de tristeza e ilusão.