Procuro um lugar
bem alto
para poder descansar
debaixo de uma mangueira
debaixo de um luar

Quero esvaziar minha mente
para sentir o que se sente
no alto manto estelar

Quero perder a medida
ver a vida despida
so para poder sonhar

Quero andar muitas léguas
não vou dar trégua
até conseguir encontrar
um lugar bem alto
debaixo de uma mangueira
para poder descansar

E ficar sôssegado
com você ao meu lado
sem nada para preocupar
olhando do alto
debaixo de um luar





me desencoraje primeiro
me diga toda verdade
pois nem ainda o mundo inteiro
preencheria uma metade
do meu coração que é todo teu
e vive a pulsar nesta esperança
de quem antes prometeu
a mim toda confiança

depois de des-enganado
o meu pobre coração
voltará renovado
com uma nova canção

Existe no mundo alguém como meu amor?
Existe nos campos tão perfeita flor?

faço esse poema um pouco bíblico
faço esse poema um pouco do primário
sabendo que quem escreve é meu eu lírico
escreve das fantasias do imaginário

vamos todos juntos correr pelas ruas
nos abraçar
chorar e rir

vamos todos como pessoas nuas
nos acalmar
voltar e vir

vamos como uma massa ensandessida
sem direção

vamos como pessoas enlouquecidas
um só coração

faço esse poema um pouco bíblico
sem muita intenção
faço esse poema um pouco do primário
com muita afeição

mando um beijo pro universo
que sorriam todas as estrelas
em cada estrofe, em cada verso
faço tudo para te-las
felizes juntas comigo
que elas nunca se esqueçam
têem um eterno amigo

me desencoraje primeiro
me diga toda verdade
pois nem ainda o mundo inteiro
saberia a metade
do que passa em meu coração
e para você meu amor
é que escrevo essa canção

Existe fim para essa poesia
Em algum lugar qualquer haveria?

fico então por aqui
não antes de abraçar
chorar e rir
sem antes te acalmar
voltar e vir
mesmo sem direção
com toda afeição
mesmo sem muita intenção
termino aqui essa canção





Hoje eu faço 35 anos
ontem mesmo eu tinha 40
e minha alma que me diz
que já não mais aguenta

é com muita força que bato
35, 20, 50
rasga, corta, massacra
arrebenta!

é suicídio
eugenia
todo forma de magia,
alquimia!

é a alma que se contorse
se debate
é todo dia algo estranho
eterno bate-e-rebate

não encontro minha alma gêmea
teria de ser uma por dia
não há alma que aguente
magia, eugenia, alquimia

metamorfose
que tudo dilacera
pois nunca fica completa
nem quando diminui,
nem quando acelera

tudo fica complexo
não existe ninguém com minha idade
são mais novos, são idosos
sobra minha alma em perplexidade

parece que sempre volto
a essa eterna adolescência
crises, perguntas, complexos
total ambivalência
minha alma não me pede dó
só um pouco de complacência
mas de mim tem sempre a resposta
em toda falta de paciência
e mais uma vez ela me diz
que não mais aguenta

amanhã quem sabe eu seja
o cara que sou de verdade
e volte a ter apenas os problemas
que assolam os da minha idade

e dê tempo pra cura
que em paz e em total bondade
pacientemente aguarda
a hora de me dar librerdade





quanto dessa desilusão ainda carrego
por becos que vago na vida
como um cego

a gente transforma isso tudo em vida
pra no final do beco descobrir
rua sem saída

e a imagem que não sai da cabeça
são desses tijolos e sua voz dizendo:
disso nunca se esqueça

e essa maldição ressoa como um eco
martelo que bate na mente
esse prego

e o silêncio vai se tornando em castigo
e a solidão que era boa
virando perigo

quanto da sua ausência ainda trago em mim
buraco negro de quem nada escapa
sem fundo, sem fim

e a gente transforma essa queda em diversão
se auto-enganando, esquecendo
que existe um chão

e essa certeza no fundo lateja
que o chão vai chegando, na esperança
que você lá esteja

por onde andas
nos momentos que vago por becos
por buracos que não acabam mais?
por onde andas
se me penso na frente
não vendo que estou sempre atrás?

onde está sua imagem
que me trazia alegria
pra me nortear nesse escuro?
Desisto!
é sempre a mesma resposta
no fim dessa via esse muro

e caminhando de volta
descubro o caminho que nunca passei
esperando como quem nunca espera
uma sentença num mundo sem lei



parece que está tudo tão claro
mas é a escuridão que nos fascina
não o nascer do sol
mas quando declina

a esperança é coisa de tolos
viva o dia
e quanto mais mau
melhor seria
queremos tudo direto
não ao silêncio!
Sim a ladainha!

é o regozijo do tempo da queda
como se não houvesse chão a espera

a alma já não é humana
somos carne, somos pó
somos lama
nessa podridão
onde só se ama quem nos ama

esse amor mentiroso que engana
que não espera
não suporta
acaba mesmo, termina na cama

nosso chiqueiro existêncial
somos lavagem um do outro
essa "delícia" que nos inflama
somos porcos
somos lixo
somos lama
deveras
a alma não é mais humana

mas eu ainda tenho esperança
que no meio de tantos desalmados
ainda exista um remanescente
não feito de coisas
feito de gente
e apenas gente

dos muros que guardam as grades
nasce uma flor

de um coração quebrado
nasce ainda o amor

do céu cinza de fumaça e dejetos
e que escondem o horizonte
brilha o sol
que ilumina no final da cidade
o monte

de um coração cansado
nasce ainda uma fonte

das águas turvas de poluição da lagoa
a vida que insiste
ainda ecoa

num coração pobre e plebeu
ainda existe uma coroa

seja ela de ouro
seja de espinhos
a necessidade é a mesma
carinho



o sol que entra pela janela
as flores que crescem no concreto
as pessoas que vivem no deserto
ainda são as fontes da esperança
são como sorrisos de criança

o cantar do galo na cidade
os latidos dos cachorros pela madrugada
os gatos que brincam nos telhados
me dão a singela impressão
que ainda pode haver canção
canção que não fuja dessa simplicidade

o coração inquieto no peito
de alguma forma de saudade
me faz crer
que ainda existe vida na cidade

é que sou desses tipos estranhos
que se impressionam com futilidades
me interessa muito mais
um sorriso do que a brutalidade
o suor do que a facilidade

é que ando desacreditado
de tudo que me fizeram crer
casa-carro-dinheiro
mulheres, o mundo inteiro!

é que tenho tido contentamento
naquilo que é desprezado
os pobres-excluidos-viciados
e é assim que me sinto
e me sinto muito bem-obrigado

é que tudo anda perdendo o valor
se valor um dia tiveram
ando como quem anda pelo tempo
procurando como quem procura alento
mas encontra sempre vento

o cachorro, o gato, a flor, o sol
são a prova que nem tudo está perdido
e a Deus eu faço esse pedido:
que eu possa sempre me encontrar arrependido
já não me importo de ser esquecido
se para alguns sou querido
mesmo mal compreendido

que ele me faça andar
não como quem anda no tempo
mas com o pé e alma na eternidade
para ver se ainda posso levar alguns a crerem
que existe um pouco de vida na cidade