Ao ir embora
não feche as portas................Por todas estradas tortas
e nem olhe prá trás

Ao ir dormir
não lembre de nós..................Por todas as horas a sós
não lembre de mim

Feche os seus olhos
lembre-se existe algo..............Por mais incrível que pareça
não se esqueça

Mundo novo
mundo velho
se renova a cada manhã.............E mesmo que seja ilusão
as vezes não acompanho.................tenho conhecido
seu rítmo, e por isso
pareço perdido

Ao voltar, não
não olhe pra baixo.................Em tudo se desculpe
e também não se preocupe

Nada será igual
e estranhamente fico feliz
por isso se renova.................E agora será sempre assim
e nunca poderá existir................vida nova assumiu
O que era eterno o Eterno
destruiu



sou um poeta louco
eu juro que nunca quis assim
no desespero que me cerca
encontro tempo e espaço
pra consolar quem espera em mim

mas e eu, o que sobra?
ou será que há sobras?
me gasto nos outros
e os outros se refazem de mim

passo por momentos egocêntricos
de poemas que só falam do meu eu
mas será que houveram outros
poemas em que falei de alguém?
quando falo dos outros
falo de mim também

é que ando sentindo saudades
desses pedaços que dei
se os terei de volta um dia...
sinceramente não sei

pareço mais um mosáico
ou melhor
um chão formado por cacos

o que ainda me dá alegria
é que de certa forma
mesmo a cada pedaço que falta
ainda existe harmonia

há quem diga que minha beleza
provém desse desenho
que se forma a cada dia
que encontro tempo no espaço e espaço no tempo
para tirar de mim mais uma fatia
e doar pra quem em prantos me diz que precisa

mas em dias como este
eu pareço um cachorrinho
que implora por uma migalha
queria que alguém ajuntasse
minh'alma que em pedaços se espalha

mas é só mais um dia
e como eu sempre digo
não existe "se"
e se existir...
desculpem-me, não acredito

é só mais um dia
e nesses dias
sou mesmo cacos
não me refaço

é que nesses dias
fico nu, pelado
tenho pouca paciência
sou mesmo cacos

desisto!
ou a vontade é de desistir
mas ainda tenho que arranjar forças
para tirar mais pedaços de mim

vai se aproximando o dia
em que nem mais cacos serei
acho que somente nesse dia
serei quem sou que sei

e desnudo daquilo que podia dar
me dê agora por inteiro
sem pedaços que tampam
o que é realmente verdadeiro

difícil, eu sei, vai ser
achar quem queira
alguém que foi desprovido da vaidade
desse mundo que nos rodeia
que ache beleza na nudez
dessa alma que devaneia
pois ainda está em cacos
e ainda me restam pedaços
que cobrem minha vida verdadeira



eu queria explodir
e consumir num incêndio
eterno dentro de mim

que fosse fogo por fogo
ardendo aqui dentro
eterno e sem fim

mas do lado de fora
o gelo consome
nenhuma fagulha
que queime um capim

nenhuma lareira
nem fósforo
nem vela
é só vento que corta
é tão frio assim

oxalá esse poema fosse
coquetel molotov
incendiário
que te queimasse
como queima em mim

talvez assim sairia
desse casulo de gelo
e de amar tanto o espelho
e não procurasse em meu eu
pedaços inteiros de ti

e voltasse pra casa correndo
como menino pequeno
que morre de medo
sabendo que seu lugar é aqui

e parasse de ter alegria
no liquido que escorre do peito
da cor de carmim

essa lava de hemoglobina
que sai da minha bomba, turbina
e só serve pra te dirvetir

eu queria explodir por inteiro
e derreter todo gelo
que me separa de ti

esse vulcão que sou tão dormente
que revolve em fúria ardente
aqui dentro de mim

talvez mais um ou dois terremotos
que me abalem por inteiro
faça jorrar tanta fúria
que é esse amor que guardo por ti

e do gelo só fique a memória
e que no fim dessa história
a gente seja feliz