faz dez anos
que não sei o que é ser
sei que ainda tornarei
sei que ainda sei

também me lembro ainda
o que é ser
ser mesmo
e mesmo não sendo
serei, por ti
em ti, onde ainda sou

a vida passa
as vagas
as neblimas e a bruma que me cobre
como cobre
ferro suave em suas mãos

e ainda apenas
e somente em seu coração
onde ainda habito
vivo
sou eterno
enquanto dure a eternidade de sua vida

passa o tempo
e em tempo já não será
e em tempos como esses
o que se pode ser
é alguém que mora
dentro de um ser

dez anos
não sei mesmo se são dez
quem sabe faça dois dias
sete eternidades
25 segundos
uma vida inteira
toda uma geração
todas as eras

sei que ainda moro dentro de ti
e daí não irei sair jamais
você é minha casa
meu jardim, minha prisão de liberdade
sei que tão logo você parta
morarás comigo
também dentro de mim

mas a fumaça
e a espuma
que me embalam
e sua mão suave metal
a me torturar de amores
não me deixam ser
ainda me lembro
ainda me lembro
não posso esquecer







a vida (parte dela)
toda ela
passou em um segundo
em um segundo uma eternidade de vida
passou em poucos longos dias
passou-se um dia em anos
passou-se
e agora já não passa mais
presa
em cadeias
e bloqueios já não passa
e se passa
já não é dia
nem anos ou eternidade
e me perpassa
e transpassa
já não sou ou ela não é
a vida
que passa, se é que passa.