Faz morrer, herói pobre e maldito
cada gotícula de esperança
com atrocidade, escândalo e grito
entra nesta infame dança
O que espera de vós,
ó mais medíocre entre os soberbos?
Um fim triste e atroz
entre becos, imundícies e sebos
Dilacera cada fio dessa sua vã fé
exorciza sua bondade, toma forma de demônio
mostra para o mundo, quem é na verdade
da maldade e da arrogância, sinônimo
Expurga agora do seu coração
o que outrora eras bom
as coisas tolas do amor
Esforça-se com toda ingratidão
Herói banhado nesta maldição
irás morrer por essa dor
Às vezes, desconfio
que minha vida é uma brincadeira de mau gosto
ou um experimento malévolo
criado por mãos de gente doentia
Me parece, às vezes, que todos
todos ao meu redor
tem um dossiê sobre mim
contanto todos meus passos
e ansiosos para ver
a nova desgraça que me abaterá
Deve ser algum teste de resistência
Algo do tipo: Os limites do ser
Dai, outra questão me abate:
Eu sou alguém? Sou humano?
Fico envolto por olhares que não olham
por gestos e sorrisos que nada dizem
Começo a duvidar da natureza
Tudo parece plástico
Pior, sinto que meus pensamentos não são meus
me sinto induzido, enfeitiçado, traído
Os telefones desligados
as pessoas que não respondem
pressinto ser tudo proposital
Sou uma marionete com direito de pensar
ou, pelo menos, induzida a isso
De repente acordo
E tudo isso ainda, me parece real.
O caminho de volta
entre vagas e ondas revoltas
O caminho de sempre
por onde vago, displicente
Sentindo saudades antecipadas
de pessoas ainda não encontradas
Sentindo de alguma forma a falta
de tudo que não me falta
Por onde vou há cinco anos?
Um mistério, estranho...
Por onde vou que não me achas?
Me vês, sei. Disfarças...
Não estranharia
se dissesses me ver
Não estranharia, como não mais estranho
em não mais te ter
E vou, nesse caminho de volta
que procuro desde a infância
E vou, em passos bêbados
aumentando entre nós a distância
É que estou me reconciliando comigo
e com todo o universo
É que estou me reconciliando contigo
aqui, em meus versos
E acho, deveras
que nesse caminho
não me encontrarei mais contigo
ei de trilha-lo sozinho
E as vezes penso
não encontrarei mais ninguém
que seja mais que um amigo
alguém que queira trilha-lo comigo
É que vago displicente
incoerente
com minha própria ortodoxia
de ritos vazia
mas completa de sentido de vida
E ando amando os pássaros
as pedras
as árvores
a noite e o dia
E chorando pelas almas que se perdem
na completude de uma vida vazia
E comovido com as conversas alheias
ando em respeito continuo
por todas as vidas
que me surgem como grãos de areia
num turbilhão
partículas num furacão
que em todo tempo me rodeia
E ando
com a visão que outros tantos já tiveram
e voltaram, como volto
pra onde nunca estiveram
ansiando encontrar
tudo aquilo que também espero
Primeiro
veio subindo
em violência
Depois
Com a delicadeza das noviças
desceu
e rasgou minha pele
dilacerou meu tórax
e arrebentou meus ossos
Antes
elevava minh'alma
num frenesi que não notava o tempo
Agora
que as vísceras saltam
e a amargura fecha tudo
nesse cubículo chamado tristeza
cada segundo - dura uma vida
ao ponto que:
cada veia que estoura
cada centímetro de pele que se abre
cada migalha de osso que se desprende
é como uma sinfonia completa
Oh não!
Não me chameis cômico
nem dado ao drama
Maior dor é essa:
Ver rir
quem o punhal empurra
hora-a-hora
contra meu peito
Nos mais abissais poços de esquecimentos
onde moram os mais tristes e insones lamentos
ali guardei ao relento
minha vida, meu coração e todos meus pensamentos
Guardei escondido da luz, no escuro
debaixo de todo escombro, atrás de todos os muros
Resguardado de que alguém os veria
segui meu caminho por outras tantas vias
mostrando ao mundo essa mentira
que eu encenava e chamava de vida
E vivi
ou morri
e enfim
eu te vi
ou fui visto por ti
E nos mais repugnantes lugares
onde vermes se servem com seus manjares
onde idolatras cultuam seus altares
onde escondi também meus olhares
Me achei perdido dentro de mim
fugindo fugidio de ti
Os lugares
lúgubres
de mais espessa
e obscuras trevas
onde a luz não penetra
ali guardei
tudo que me resta
A luz
As trevas
Era dentro de mim
era quem era
quem sempre fui
todo esse poço
o esconderijo
o abismo
o nojo
era de dentro de mim
eu, o próprio esgoto
Nada escondi
estava a céu aberto
exalando por todos os lados
o cheiro podre e fétido
Escondi apenas de mim
Até que te vi
e me vi