O caminho de volta
entre vagas e ondas revoltas
O caminho de sempre
por onde vago, displicente

Sentindo saudades antecipadas
de pessoas ainda não encontradas
Sentindo de alguma forma a falta
de tudo que não me falta

Por onde vou há cinco anos?
Um mistério, estranho...
Por onde vou que não me achas?
Me vês, sei. Disfarças...

Não estranharia
se dissesses me ver
Não estranharia, como não mais estranho
em não mais te ter

E vou, nesse caminho de volta
que procuro desde a infância
E vou, em passos bêbados
aumentando entre nós a distância

É que estou me reconciliando comigo
e com todo o universo
É que estou me reconciliando contigo
aqui, em meus versos

E acho, deveras
que nesse caminho
não me encontrarei mais contigo
ei de trilha-lo sozinho

E as vezes penso
não encontrarei mais ninguém
que seja mais que um amigo
alguém que queira trilha-lo comigo

É que vago displicente
incoerente
com minha própria ortodoxia
de ritos vazia
mas completa de sentido de vida

E ando amando os pássaros
as pedras
as árvores
a noite e o dia
E chorando pelas almas que se perdem
na completude de uma vida vazia

E comovido com as conversas alheias
ando em respeito continuo
por todas as vidas
que me surgem como grãos de areia
num turbilhão
partículas num furacão
que em todo tempo me rodeia

E ando
com a visão que outros tantos já tiveram
e voltaram, como volto
pra onde nunca estiveram
ansiando encontrar
tudo aquilo que também espero