Seu amor me levou ao mais alto
e atordoado, perdi o chão
e acustumado com as núvens
tendo nelas a doce ilusão
de pisar no firmamento as alturas
fui perdendo a razão
e cedendo a loucura

E sem perceber fui perdendo as asas
que seu amor tão singelo me deu
fui caindo, caindo, caindo
e nisso foi-se indo
seu amor
o meu
você
meu eu

Tinha me tornado raso
enebriado de amor e alegria
cantava canções como o vento
embriagado com a luz do dia
e junto com essa melodia
eu me perdia
e me ia
rumo a chão dia-a-dia

O impacto
VIOLENTO!
cruel
sanguinolento
se foram as nuvéns
as alturas
as canções do vento

A realidade bateu nua e crua
e a morte anunciada sem choro nem vela
e assim, agora, sem ela
estou com meus pés em terra

De volta a verdade
ao mundo
me resignei a me tornar profundo
e cavava, descendo
pro fundo
aonde jazem
a sabedoria e o vagabundo

A sete palmos
pra dentro do chão
longe da multidão
das núvens
da vastidão
eu descia
rumo a solidão
procurando como quem prescruta uma mina
a espera do tesouro
um baú, cheio de ouro
onde a vida termina


O que enconteri foi saudade
não das alturas ou do vento
saudade de cada momento
que passei ao seu lado
as canções outra vez me surgiram
não como dantes, outrora
cantava novas canções
cantando dos segundos às horas
da falta que me fazes agora


E você
a quem eu perdi no tempo
andas por onde?
ao relento?
tens ainda como chão o firmamento?
ou encontrastes como eu a terra?


Você que sempre fora
a razão última da minha canção
que de saudade me dissolvo nas profundezas da terra
diga que ainda me espera
no abismo, nos céus, ou em outra qualquer dimensão
diga, para que mesmo
que eu não mais a veja
não perca a sabedoria
nem a fé, nem mesmo a razão
e viva pelo resto dos dias
aqui em baixo
rodeado com essa doce ilusão