Estar pronto para morrer
é este o último limiar
a última fronteira
que se deva atravessar

A mente se consome em desejos
viagens e roteiros
nunca pronta para cessar

Há paz na morte

Não se assustar com a morte
é reconhecer de vez por todas
a fragilidade da vida
a sua limitação

Tropeçamos todos os dias
por todo o dia
A morte é a realidade pungente
A nos esperar calmamente
À hora em que nossa hora chegar

E se vê muita gente tentando fugir
morrendo devagar
Sem nunca estar pronto
Sem pronto, nunca estar
E a morte que vem de mancinha
durante a vida nos abraçar

Nas manhãs que não mais saciam
No sol que só queima
No frio que corta
No dia que se esvai
sem que nada possa se fazer

Nos beijos que não acalentam
No canto dos pássaros que não se ouve mais
Na correria da vida
Na ansiedade
que só faz matar

Correr da morte
e na morte se abraçar

Estar pronto para morte
a qualquer hora
em qualquer lugar

E pode ser que se fique velhinho
e feliz
pois se venceu mais um medo
e sem medo é que se deve viver
pois sem medo
morrer não é morrer
é andar no caminho da vida
para um dia a vida absorver
sua vida
eterna
viver