O asfalto se abria
como o mar vermelho
e abaixo da sola
a cada passo
surgia um passáro

os carros paravam
em fila vertical
para que tu passasses
a braçadas
por esse umbral

a música que cortava
feito uma adága
separava os cogumelos do meu peito
e os passáros desciam
para respirar
nosso ar mais rarefeito

Vi a lua sorrir
e não era para mim
e não era pra você
e não era pra ninguém

Um homem ao meu lado
acabou de sair voando
era o mais infeliz dos homens
comprei um cigarro
pra servir de vela no meu aniversário
em dezembro
em dezembro
em dezembro

o céu resolveu beijar o mar
se derretia
ficaram verde
a floresta se avermelhou de vergonha
debaixo do meu pé
nasceram pelos

a pedra que me aconselhava
dessa vez não tinha conselhos
saiu do meio do caminho
entrou em desespero
e me deixou no vazio
que é olhar pro espelho