Nem se piscou os olhos
e agosto se foi
e assim
tão de repente
o ano acabou

Entram os meses que me esqueço
meses que nunca me lembro
sete, oito, nove...doze!
Dezembro!

Amanhã, dia 19
quando agosto se findar
quem sabe ainda haja vida para viver
quem sabe ainda haja vida

Os ventos que agora cortam as peles
e que esfriam amores
sopraram muito antes
antes que agosto destilasse seus sabores

agora não sobram nem brumas
nem névoas
nem ar para respirar

apenas esses ventos
esses ventos que cortam
e cortam apenas

Viver nesse não tempo
pós agosto
é olhar para o espelho
e não ver o rosto

é não beber o vinho
se contentar com o mosto

é saber-se vivo
mesmo morto